Após uma semana de intenso trabalho reabriu no fim-de-semana de 29 e 30 de Agosto, passado, o espaço remodelado do Núcleo Museológico “ A Casa do Neveiro”, instalado no edifício da União de Freguesias, sito no Coentral Grande.

Outrora residência nobre do Neveiro José Agostinho Barreto, pai de D. Manuel Agostinho Barreto que nela nasceu em 1835 e viria a ser Bispo do Funchal durante 34 anos (entre 1877 e 1911), o centenário edifício construído em pedra granítica viria a ser adquirido no final do século XX para nele instalar a Junta de Freguesia do Coentral. Numa parte deste edifício, numa zona não utilizada, cedida pela autarquia coentralense ao Rancho Folclórico Neveiros do Coentral (RFNC), viria a ser instalado, em 2002, o Núcleo Museológico “ A Casa do Neveiro”, que desde 1996 se encontrava localizado num espaço exíguo disponibilizado pelo Centro de Instrução e Recreio União Coentralense (CIRUC).

Um minucioso trabalho de pesquisa no terreno, realizado essencialmente pela equipa do Núcleo Museológico, e a firme vontade de querer fazer mais, permitiram levar por diante, nessa altura, um vasto projeto que consistiu em associar e integrar, no historial dos Neveiros do Coentral, todo um manancial de objetos, utensílios caseiros, agrícolas, artesanais, etc., que representassem os usos e costumes das nossas gentes e homenagear, também, o fundador do RFNC e os nossos antepassados. Assim, naquelas instalações foram recriadas a 1ª Escola Feminina, instalada em 1913 no então Centro Escolar Democrático União Coentralense (hoje CIRUC), a casa dos nossos antepassados (com alguns objetos e utensílios do seu dia a dia), os velhos usos e costumes da agricultura e pastorícia, a indústria artesanal de fabrico de meias e luvas de lã, assim como criado um espaço onde está patente o historial e o espólio do Rancho Folclórico Neveiros do Coentral.

Contudo, 13 anos volvidos sobre a sua abertura naquele edifício, mais uma vez a ambição dos Neveiros de querer fazer mais e melhor, associada às ofertas de natureza etnográfica que nos foram chegando, de diversas pessoas e origens, e à boa vontade da Junta de Freguesia, levaram os elementos da equipa do Núcleo Museológico do RFNC, e outros voluntários envolvidos, a por mãos à obra e proceder à necessária remodelação daquele espaço, sacrificando uma parte das suas férias “na Terra” para continuar a manter bem viva a memória dos usos e costumes dos nossos antepassados. Para eles, uma palavra de apreço e de agradecimento, nomeadamente, a: Maria Manuela Machado Fernandes, Olga Bento de Almeida, Maria Fernanda Simões Barata e Alberto Simões, e, também, a todos os que de uma ou de outra forma participaram nesta intervenção.

De facto o acervo actual agora exposto já não cabia no espaço anteriormente cedido. Assim, para além de uma organização mais coerente e funcional do percurso de visita, “ A Casa do Neveiro” passou a dispor de uma nova sala onde se recria a típica adega coentralense semelhante, por certo, às adegas da maior parte das casas das aldeias do nosso concelho.

Perguntar-nos-ão: O espaço, agora remodelado e ampliado, é tudo o que há para mostrar? Não!

As ofertas que a equipa do Núcleo Museológico do RFNC têm em mãos permitem afirmar que, apesar de maior, o espaço actual é curto para instalar todo o manancial de objectos prometidos e, ainda, não expostos, ligados, naturalmente, à vida das gentes coentralenses. Na opinião desta equipa, seriam necessárias mais algumas salas do edifício para acolher condignamente o restante conjunto de objectos que aguarda nova oportunidade de exposição.

Essa é, contudo, uma questão à qual o RFNC procurará dar resposta quando e logo que se reúnam as condições necessárias. Por agora, estamos em crer que o trabalho realizado na remodelada “Casa do Neveiro” tornou aquele Núcleo Museológico mais coerente, mais atraente e mais variado, ou seja, numa palavra - mais vivo e aberto a todos os que nos quiserem visitar e vivenciar, naquele local, a forma de vida das gentes coentralenses, dos tempos passados.

Relembra-se que “ A Casa do Neveiro” pode ser visitada durante todo o ano, mediante marcação prévia, através dos contactos indicados na área do núcleo museológico.

Nota final: Em tempos, o Dr. Herlander Alves Machado, fundador do Rancho Folclórico Neveiros do Coentral, sonhou criar um espaço destinado a preservar o historial dos Neveiros, assim como a recolher os usos e costumes dos nossos antepassados.

Foi com base nessa ideia que em 9 de junho de1996 se fundou o Núcleo Museológico “A Casa do Neveiro”, nas Instalações do CIRUC, tendo este vindo a transitar, em 2002, para o edifício da Junta de Freguesia do Coentral, como já foi anteriormente referido.

Antes, porém, há cerca de 25/30 anos, chegou a ser encarada a hipótese de instalar este Núcleo Museológico na primeira casa do Neveiro Julião Pereira de Castro, tendo havido uma tentativa, por parte do então Presidente da Junta de Freguesia do Coentral, Joaquim Alves Barata, no sentido da Junta comprar o edifício aos herdeiros proprietários do imóvel para nele instalar o Museu dos Neveiros, na sequência dos apelos feitos pelo do Dr. Herlander Machado nesse sentido.

Contudo, como já foi referido em notícia anterior, publicada no jornal “O Ribeira de Pera” sobre a situação desta casa, por vicissitudes de vária ordem não foi possível concretizar essa aquisição. Presentemente, aquela casa, que constitui um marco importante da nossa memória e história colectivas, está em risco de se perder, irremediavelmente.

Artigo da autoria de Joaquim Ferreira

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